O ninho Vazio
Lembro-me que quando casei minha mãe estava triste, não entendia o porque. A tristeza dela me deixava triste. Pensei diversas vezes que ela não gostava da minha esposa, mas elas se davam bem (se dão tão bem), mas não entendia o que havia de errado. Lembrei então, de quando eu tinha 16 anos meus irmãos se casaram no mesmo ano, um em janeiro e o outro, em junho. Logo, não haviam mais brigas dentro de casa, as disputas, as roupas jogadas, o banheiro molhado, o barulho. Não havia mais dois pratos na mesa, não tinha quase ninguém jantando na sala, o tempo que cada um poderia tomar banho se tornou infinito e a pia cada vez mais limpa.
Realmente, casa com crianças inspiram a vida, mas já não éramos crianças e a vida a partir dali, para nós, era outra. Nossos pais se tornariam nossos parentes e a pessoa que Deus nos apresentou se tornaria a nossa família. Isso é muito lindo para a nossa nova história para a nossa nova família, mas pensando bem, para as nossas mães é triste.

É como se depois de anos, aquele ser que foi gerado encontra no mundo o seu destino, mas o ventre da mãe sente uma força bruta arrancando o filho para o mundo, sem chance de ser como antes. Ele parte e forma sua família em busca sua liberdade e felicidade.
Isso aconteceu e eu apenas tinha dezesseis anos, mas como não percebi? Depressão ou tristeza muitas vezes são tão sutis, que não percebemos o que o outro está sofrendo, ainda que esse "outro" seja nossa mãe. Desculpe mãe, por não ter percebido antes.
A última punhalada foi o mais novo (eu) sair de casa, sem dia e nem hora para voltar, sem dar satisfação, sem dar um beijo ou pedir benção. Peguei minhas roupas e tudo que era possível, coloquei no meu carro e fui embora. Raramente tenho uma memória tão clara e viva, porém essa ainda dói. Olhei para trás e minha mãe falou para que eu levasse outras coisas depois, mas tive que manter a postura e continuar, pois sabia que o meu destino era formar minha família, mas que sempre quase todos os dias iria almoçar ou tomar um café em sua casa...Casa que não era mais a nossa, mas a sua.

Fotos: Leonardo Gali
Depois de alguns dias indo visitar minha mãe e meu pai que também sofrera com a ausência dos filhos, percebi a casa triste, não havia mais ninguém ali, nem eu.
Não sabia o que fazer, apenas foi (vou) todos os dias para matar a saudade, ir todos os dias para sentir o seu cheiro deles e eles sentirem o meu.
Tudo com o tempo passa, mas não percebi o quanto seria sua tristeza. Era o que os médicos chamam de síndrome do ninho vazio.
O cordão umbilical havia sido cortado e para ela, é como se me perdesse. Muitas mães se preparam para que o momento da ruptura aconteça, mas nem sempre estão preparadas. Elas entendem que isso faz parte do processo de crescimento e do processo natural da vida, porém NÃO SENTEM a felicidade.
Elas tentam encarar essa saída de casa com otimismo, não como abandono, porque é um fator de felicidade para os filhos(as).
As mães estão mais suscetíveis à depressão ou a tristeza profunda, mais que os pais. A menopausa também pode otimizar o quadro, pois ela percebe que não terá a possibilidade de ter outro filho, vivenciando assim esse momento de uma forma mais exacerbada.
É importante que os pais reconheçam essa independência, amadurecimento na vida dos filhos. Também é importante que os pais procurem os amigos e liguem para os filhos. Percebeu que seus pais então tristes diga para eles ligarem para os amigos, liguem para eles, tomem um café, passem uma tarde juntos. Estas atitudes os ajudarão vivenciar isso de uma forma menos dolorosa.
Percebendo que eles estão com preguiça de tudo e ficam muito cansados, isso é um sinal de alerta. Procure ajuda médica. Tudo passa. Ajude-os a refletir sobre o quanto você está feliz e o homem ou mulher que você se tornou e a família que você está criando. Isso os ajudará muito.
Fiquem com Deus
Viktor Hugo.